Pai
hoje encontrei-te sentado na curva das minhas costas
hoje encontrei-te sentado na curva das minhas costas
Estavas tão belo... parecias sorrir
vi-te de relance, no reflexo projectado no espelho
enquanto lavava os dentes
pousaste docemente no verde cinza do nosso olhar
vi-te de relance, no reflexo projectado no espelho
enquanto lavava os dentes
pousaste docemente no verde cinza do nosso olhar
por vezes encontro-te
no lince que me desenha o sobrolho
neste passo lento de tigre
no gesto selvagem que me nasce na garganta
Na lava que me sai pela boca
quando já não encontro a palavra crua
no lince que me desenha o sobrolho
neste passo lento de tigre
no gesto selvagem que me nasce na garganta
Na lava que me sai pela boca
quando já não encontro a palavra crua
e encontrei-te tantas vezes no fundo de um copo vazio
afogado na ausência de um abraço
afogado na ausência de um abraço
e encontrei-te em todas as minhas orações desde criança
sim eu rezava pai
rezei de uma forma tão perfeita
tricotei dezenas de rosários inventados
para me manterem a salvo de ti
sim eu rezava pai
rezei de uma forma tão perfeita
tricotei dezenas de rosários inventados
para me manterem a salvo de ti
quero que saibas pai
que te encontro todos os dias nos caracois do cabelo do meu filho
aquele que nunca conheceste
que te encontro todos os dias nos caracois do cabelo do meu filho
aquele que nunca conheceste
encontro-te em todos os meus pesadelos
no meu receio antigo de erguer as coisas solidas
no meu receio antigo de erguer as coisas solidas
encontro-te muitas vezes nas minhas mãos
neste desenho de machado de montanhas
nestas mãos que se abandonam tantas vezes vazias
á procura de uma razão valida para moldar os dias.
neste desenho de machado de montanhas
nestas mãos que se abandonam tantas vezes vazias
á procura de uma razão valida para moldar os dias.
Açores 6 de Abril 2018
(ao meu pai)
(ao meu pai)
Este escrito desceu em mim hoje, assim que pousei na ilha de São Miguel
Estava á espera das malas e tive que me sentar enquanto ia escrevendo estas palavras que jorravam da caneta
quando terminei desceu-me a menstruação
e a minha mala apareceu na passadeira rolante.
A isto chamo catarse
Agradeço a Atena a Deusa que tenho estado a trabalhar no grupo de trabalho em Lisboa
algo se uniu
foi lavado
dito e perdoado
sinto-me em paz
com AMOR
Rute
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