Que me recorde
Chamei amigo/a
a uma meia dúzia de pessoas
Talvez menos...
A amizade do Touro
É coisa delicada
Não cabe em ecrãs
metáforas ou eufemismos
Não se escolhe
Não se compra nem se tolera
Uma vez tecida
Imortal tal qual um Menir
A raiz da amizade estabelece-se
no perfume antiquíssimo
dos carvalhos
Numa sintonia perfeita
de esferas
Um eco
Uma melodia
Uma escada de carne para dentro do coração do outro
No meu caso apaixono-me sempre
pela beleza dos poetas
Nunca tive nenhum amigo que não fosse poeta
Sinto saudade das noites de poesia
Da fumaça a sair-nos pelo alto das cabeças
Escorrendo--nos rubra e pegajosa
pelos cantos da boca
Sinto muita saudade de pisar em conjunto uma estrela
De ser capaz de recitar frases completas com os olhos
De ser compreendida
De sepultarmos mil segredos no peito um do outro
Assim como quem enlaça corações de seda no tronco da árvore faminta
Sulcos inteiros de amor e prosa
Macios e ébrios
como a rosa
Branca pura
espinhosa
Ao chegar o final do verão a minha casa encheu-se de luz branda
E abandono
Agora só os anjos e as visões a vêm visitar
Sinto falta dos meus amigos da desordem
falta-me a alegria e a loucura dos poetas
Com Amor
Rute Alegria
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