domingo, 3 de novembro de 2019

descentralizar é voltar ao centro



Em cima da mesa a colheita do ano: laranjas, abacates e romãs, só quem convive de perto com as árvores poderá compreender o que significam quatro ou cinco kg de fruta.

Depois da colheita o peito enche-se de orgulho e agradece-se o privilégio do usufruto do seu trabalho!
Uma fruteira é o resultado do trabalho de um ano inteiro
nela está espelhado o cuidado e o amor não apenas nosso, fieis jardineiros, mas principalmente da árvore, sol, chuva, insetos e elementais.



E hoje na colheita celebrámos esta sintonia

O contato com a terra traz-nos este aprendizado, o de compreender a magia dos ciclos e uma sensação de pertença ao mistério da vida.


Traz-nos vontade para talhar um novo dia e conexão com o divino dentro de todas as coisas vivas

reinventas a palavra dádiva e gratidão
agradeces a água que cai, a água que bebes e os alimentos que se misturam contigo


Há vinte anos mudei a minha vida para Lisboa
Durante todo esse tempo sempre me agradou a ideia de viver No centro
No centro do país
No centro da cidade

O centro era essencial para me sentir confortável

Com o tempo fui notando que o que eu procurava de facto era o centro de mim mesma, e esse depois de identificado irá comigo para onde eu for

Ao encontrares o teu centro deixas de sentir o vazio
Aquele que sentimos muitas vezes no meio das gentes...

Lisboa é a minha cidade amada

Lembro-me em criança, que sempre que visitava a cidade os meus olhos enchiam-se de lágrimas. É um amor.

Um amor daqueles que já nascem connosco!

Mas hoje, ao olha-la de perto
já não tenho mais vontade de ser a sua fiel amante
Talvez pela primeira vez consiga admitir que a nossa relação de vinte anos chegou ao fim

Não fui só eu que mudei
Mudámos as duas

Confesso que nos últimos cinco anos mudou tanto que já mal a conheço

De Anciã passou a adolescente

Lisboa Pop
Lisboa globalizada
Lisboa deslumbrada
vestida de azul, sardinha, luz e diamantes
sempre bairrista, ingénua e bela!

Uma Lisboa que se tornou turista de si mesma
madrasta dos filhos que viu crescer
muitos ainda presos ao amor do passado
teimam em retê-la branda num presente que já foi...

Talvez o aumento das rendas seja uma bênção!

um convite para a terra
nós somos filhos e filhas da terra

descentralizar

porque não criar postos de trabalho longe
da rua cor-de-rosa, da poluição e do barulho?

Traz as crianças para conhecer a beleza que existe no trabalho das árvores.

Ouve, talvez seja uma bênção!

Por vezes a vida arranja forma de nos oferecer um presente
Cortando um veneno...

Pensa nisso!
com Amor

Rute Alegria


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