terça-feira, 10 de abril de 2018

Afinal o que é isso de dar sangue à terra?


A primeira vez que ouvi dizer que deveria “ dar de beber á terra “ foi em 2010, já tinha 32 anos e nesse momento um mundo novo se abriu para mim…
                                                  “Afinal o meu sangue não é lixo.”
Ao entrar em contacto com os “Misterios Eleusinos “ pude compreender mais profundamente o que é isto de ser mulher.
Mais tarde frequentei um curso de seis meses de terapia menstrual, no final do curso fizemos um ritual de passagem na floresta, ao fim de varias horas de contacto directo com a mãe-terra, senti que fui parida por ela, foi um momento mágico que nunca esquecerei, entendi profundamente o que é o amor incondicional, esse amor não nos é oferecido pela nossa mãe biológica, porque amar incondicionalmente pressupõe amar sem cobranças, amar de uma forma generosa sem pretender nada em troca, a terra sustenta-nos em absoluto.
No final deste rito só conseguia chorar, ao mesmo tempo que me sentia amada e una com a natureza.
Depois de compreender o poder do meu sangue, de entender o que era a lunação interna e de fazer um trabalho profundo do sagrado feminino, uma nova mulher nasceu para o mundo.

Escusado será dizer que muitas coisas começaram a cair na minha vida.



Primeiro caíram alguns relacionamentos antigos que já não ressoavam comigo, depois o trabalho que mantinha que parecia maravilhoso mas que sugava todo o meu potencial criativo, depois começou a mexer com a minha relação familiar, lentamente as capas, espadas e mascaras foram sendo reveladas, também algumas relações caíram por terra, outras foram resgatadas e outras ainda fortalecidas.
Depois foi a vez de mudar de caminho, uma nova profissão apareceu pelo seu próprio pé e apresentou-se a mim até hoje como uma missão e uma alegria.

                                                           T.P.M - Tempo Para Meditar

Antes de fazer trabalho do sagrado feminino costumava ter um TPM verdadeiramente terrivél, é curioso que verbalizava muitas vezes que nesse período, fazia uma “descida aos Infernos”,  foi espantoso para mim conhecer as histórias milenares de Ishtar, Inanna Hécate e Persephone, estas Deusas perdidas, mostraram-me que eu não estava sozinha, e aí pude compreender que não se passava nada de mal comigo, simplesmente a sociedade patriarcal não me tinha ensinado a ler as mensagens do meu ciclo lunar, e nem estava preparada para compreender e acolher a legitimidade dos ciclos lunares femininos.

Hoje percebo que T.P.M quer dizer: Tempo Para Meditar e tento respeitar isso.

A medicina da serpente
Durante esta fase da nossa lunação interna, muitas vezes entramos em crise, vamos da raiva á melancolia num ápice, isto acontece porque a nossa alma feminina precisa de ser renovada.
Se reconhecermos que esta é uma oportunidade para entrarmos em contacto com as nossas sombras, com aquilo que está escondido, com as partes de nós que não conseguimos ver durante o resto do ciclo, então um milagre acontece, deixamos de ser vitimas para nos tornarmos mulheres mais conscientes e co-criadoras da nova mulher que renascerá na lua seguinte.
Mas para que isso aconteça, durante a sua lua a mulher deverá respeitar os seus ritmos internos, recolher-se, tornar-se introspetiva tal como a irmã serpente, diabolizada pela religião judaico-cristã.
Do ponto de vista simbólico a serpente comporta-se tal qual o endómetrio, cuja pele se desprende periodicamente.
Na sabedoria Ancestral do Sagrado feminino as mulheres compreendiam a necessidade de integrar a medicina da serpente, tal como ela, enquanto esperamos pela “ nova pele”, devemos ter paciência silenciar.
A medicina da serpente diz:"Enrolem-se sossegadas debaixo de uma pedra" á espera que a mãe natureza faça o seu trabalho, e uma nova pele surgirà.

Esta fase deve ser abraçada por nós como uma época sagrada de descanso e nutrição.
devemos direcionar todo o nosso amor para nós mesmas, é importante cuidar do corpo e do coração.

Oferecer o nosso sangue à terra, cria um sentimento de propósito, de comunhão com o cosmos, principalmente para as mulheres que vivem no meio urbano, compreendemos o mistério maior escondido por detrás do ato de menstruar, passamos a sangrar com alegria e devoção, passa a ser uma bênção e não um fardo.
Encontramos em nós mesmas o animal, a mulher, a planta e a Deusa e todos os elementos, e todas as estrelas, sentimos-nos parte do TODO, em verdadeira comunhão com a mãe-terra.

Tudo o que sai de mim é criativo e transforma-se, não deve ser Escondido, abafado e principalmente : Poluidor.

Nas tradições Matrifocais antigas, o sangue menstrual era reconhecido como sagrado e era costume a mulher oferecer as suas àguas sagradas à terra como símbolo de agradecimento, ao dar-mos sangue à terra estamos a nutria-la tal como ela faz connosco através dos alimentos.

                                                                  A tenda vermelha


Nestas Sociedades as mulheres juntavam-se em tendas vermelhas, tanto para menstruar como para parir, era um verdadeiro templo do feminino, aí honravam as suas Deusas, contavam histórias e passavam os seus ensinamentos e práticas às mulheres mais novas.


                                                              Dar sangue á terra

As mulheres juntavam-se durante a menstruação e juntas honravam o seu sangue sentadas diretamente na terra, deixando-o escorrer para a "mãe, davam as mãos e entoavam lindos cânticos enquanto nutriam a terra.

Atualmente esta prática que jazia nas profundezas do esquecimento, tem recebido um impulso do inconsciente coletivo, nesta nova Era o feminino pede para ser honrado para voltar  á luz e cada vez são mais as mulheres que se juntam em círculos ou sozinhas e fazem rituais de oferecimento do sangue à mãe terra. 

Plantar a nossa lua, através do oferecimento consciente do nosso sangue à terra é uma forma de agradecer a Gaia, Demeter, Patchamama, Eurinome.
 O nosso sangue é rico em nutrientes que fertilizarão a terra e se deres a uma terra tua, ela irá recompensar-te produzindo as ervas que precisas para te nutrires ou curar algum desequilíbrio no teu organismo.

Muitos desequilíbrios físicos podem ser evitados e sanados através desta prática: ovário policístico, miomas, ciclo menstrual irregular, cólicas e desconfortos na menstruação, infertilidade, tensão pré-menstrual, etc.

Ao devolvermos o  nosso sangue à Terra também podemos curar as relações com os nossos ancestrais, e com o sagrado em nós, honramos o feminino individual e coletivo e reconhecemos que o nosso sangue é vida e morte e que ambos os movimentos são saudáveis e enriquecedores para nós enquanto mulheres.

A terra irá regenerar a energia do nosso útero, o mesmo movimento que o nosso útero faz em relação à energia das pessoas que nos rodeiam diariamente, principalmente os homens da nossa vida.


                                                          Ritual do cálice sagrado


O acto de dar sangue à terra pode ser efectuado de diferentes formas não existe uma só forma de o fazer.

Há mulheres que gostam de menstruar sozinhas directamente na terra numa floresta, outras de nutrir uma planta lunar que cuidam em sua casa, outras dão sangue tem conjunto num mesmo local ou numa árvore sagrada segundo rituais rígidos e específicos.

Eu sinto que aqui a intuição da mulher, a sua sabedoria ancestral e profunda tem uma palavra a dizer.
Que deve ser respeitada e sentida.

Deixo-vos aqui algumas sugestões de práticas que aprendi no meu percurso através de antigas tradições 

  • Podem consagrar um cálice de cristal para este efeito de honrar o sangue menstrual 
  • O cálice deve ser mantido num altar limpo e arranjado consagrado à Deusa 
  • Este calice só deve ser manusiado e usado por ti e tapado com um pano vermelho quando não estiver a ser usado
  • No altar deves ter uma concha e uma pedra da lua ou obsidiana, e outros objectos do teu agrado que simbolizem o sagrado feminino e os quatro elementos
  • Para colheres o sangue podes usar um copo menstrual, ou deixar de molho pensos menstruais de pano para depois regares a tua planta.
  • Eu gosto de ter uma só planta lunar para este efeito, desta forma através da observação da planta consigo perceber coisas de mim mesma.
  • Deves misturar um pouco de água antes de ofereceres o sangue á terra, o sangue menstrual no seu estado puro tem uma energia muito forte, por vezes as plantas não aguentam e morrem.
  • Qualquer planta pode ser uma planta lunar, eu costumo oferecer nos meus círculos de mulheres, vasos com rosas, amores-perfeitos, artemísia ou girassóis.
  • Se a tua planta morrer vais sentir que perdeste uma parte de ti mesma, uma vez que a relação que se estabelece ser muito forte, caso isso aconteça agradece à alma da planta que fez o seu trabalho, sacrificou o seu potencial criativo para renovar a tua energia, caso esteja mesmo morta deves queimar a raiz e deitar as cinzas ao mar.
  • As mulheres que queiram dar sangue diretamente à terra devem fazê-lo de cócoras ou sentadas directamente no solo como faziam as antigas e as mulheres de algumas tribos.
  • No final podes fazer uma composição criativa ou de land art com elementos soltos que encontres na natureza 
  • É importante fazer uma defumação e abrir um rezo

                                      Mulheres na Menopausa e meninas sem a Menarca



 Mulheres na Menopausa
As mulheres que estão na menopausa também se podem ligar à lua e fazer as suas oferendas à mãe terra 
  •  podem fazer o ritual do cálice sagrado exatamente da mesma forma que as mulheres que menstruam mas em vez de sangue menstrual oferecem o néctar das uvas negras, um pouco de vinho tinto 
Meninas que ainda não tiveram a sua primeira menstruação
A menina e a mãe ou a madrinha devem colher e preparar juntas um cálice de água de rosas brancas e ensinar a menina a fazer o ritual com este preparado.

Em ambos os casos o ritual é feito durante a Lua Nova.


COISAS QUE CONSIDERO  IMPORTANTES EVITAR

  • Na minha perspetiva é de se evitar misturar o nosso sangue com outras pessoas, o sangue tem a nossa energia, que não deve ser abandonada em qualquer sitio nem misturada de forma inconsciente através do nosso ADN é possível selarem-se pactos de sangue muito dificeís de quebrar no astral
  • Não deverás fazer nada para o qual não estejas preparada, ou que viole os teus construtos mais enraizados
  • Deves seguir o teu coração e intuição e não seres levada a fazer coisas para seguir modas    grupos, gurus, sacerdotisas entre outros.

O que é importante salientar é que este ritual deve ser feito com profundo respeito, aproveita para ouvires a tua alma, silencia a tua mente, encosta o ouvido á mãe terra ouve o seu pulsar, sente o teu coração liga-o ao centro do coração da terra, ouve a voz dos teus ancestrais, no ventre da mãe jaz as ossadas de todas as que vieram antes das tuas avós, procura ouvir as suas vozes, o que elas dizem de ti mesma, conta os teus segredos mais profundos á "mãe" ela vai-te compreender sem julgamento.
E verás que nesta relação com a terra uma parte de ti ficará enterrada nela, para que o novo possa emergir.

Desejo-vos uma profunda mudança de pele
espalhem este conhecimento

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com amor <3

Rute Alegria 

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