domingo, 23 de fevereiro de 2020
crónicas sobre a solidão
Na minha vida tenho tido a graça da confiança.
Desde menina que me confiam segredos
O meu nome poderia ter sido Pandora...ou Madalena, em um ou outro momento Salomé ou até mesmo Eva ou Lilith.
Mas a minha mãe escolheu para mim Rute, em hebraico traduzido à letra Compaixão.
Ela na verdade não sabia nada dessa tal de compaixão, mesmo porque a própria vida nunca tinha sido compassiva com ela, mas houve qualquer coisa na vibração arcaica da palavra que a fez acreditar que este era um bom nome.
As confissões de milhares de pessoas, têm enriquecido o meu mundo e com esta informação, tenho desenhado uma geometria interior cada vez mais complexa, construo dia a dia imagens padronizadas, códigos inteiros que se vão alinhando e esculpindo sulcos espectrais na minha pele
Confesso, que algumas noites, me é difícil dormir.
Durante o sono, processo centenas de histórias que nunca vivi diretamente.
É como viver mil vidas num só corpo.
Entendes?
O pecado dos Homens, é muitas vezes arquitetado na solidão.
É triste, mas é o medo de ser sozinho que nos leva pelos baldios do mundo.
É a ânsia pela admiração do outro, a fusão no outro, o consumo do outro que nos leva a fazer, pensar e ansiar por caminhos que nos afastam da nossa luz.
Do nosso centro.
Do amor que tanto procuramos.
Tenho testemunhado, que a maioria das pessoas não tem medo da morte, contando que ela venha fulgurante e com pé ligeiro
As pessoas não têm medo do não Ser.
As pessoas têm medo sim, do sofrimento e principalmente da maldita solidão e do abandono.
As pessoas não têm medo de serem esquecidas, do escuro ou da falta de oxigénio.
Elas têm medo da decadência.
Da doença e principalmente da morte dos outros, os Homens e as mulheres de todos os tempos, têm medo do vazio de se confrontarem com a sua própria existência.
A solidão é talvez o maior desafio Humano...
Este é o nosso drama maior o de sabermos que na verdade só podemos contar com a nossa própria vontade para nos expressarmos no mundo!
Rute Alegria
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Encantada!
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