sexta-feira, 6 de abril de 2018

pai




Pai
hoje encontrei-te sentado na curva das minhas costas
Estavas tão belo... parecias sorrir
vi-te de relance, no reflexo projectado no espelho
enquanto lavava os dentes
pousaste docemente no verde cinza do nosso olhar

por vezes encontro-te
no lince que me desenha o sobrolho
neste passo lento de tigre
no gesto selvagem que me nasce na garganta
Na lava que me sai pela boca
quando já não encontro a palavra crua
e encontrei-te tantas vezes no fundo de um copo vazio
afogado na ausência de um abraço
e encontrei-te em todas as minhas orações desde criança
sim eu rezava pai
rezei de uma forma tão perfeita
tricotei dezenas de rosários inventados
para me manterem a salvo de ti
quero que saibas pai
que te encontro todos os dias nos caracois do cabelo do meu filho
aquele que nunca conheceste
encontro-te em todos os meus pesadelos
no meu receio antigo de erguer as coisas solidas
encontro-te muitas vezes nas minhas mãos
neste desenho de machado de montanhas
nestas mãos que se abandonam tantas vezes vazias
á procura de uma razão valida para moldar os dias.
Açores 6 de Abril 2018
(ao meu pai)



Este escrito desceu em mim hoje, assim que pousei na ilha de São Miguel
Estava á espera das malas e tive que me sentar enquanto ia escrevendo estas palavras que jorravam da caneta
quando terminei desceu-me a menstruação
e a minha mala apareceu na passadeira rolante.

A isto chamo catarse 

Agradeço a Atena a Deusa que tenho estado a trabalhar no grupo de trabalho em Lisboa

algo se uniu 
foi lavado
dito e perdoado

sinto-me em paz 

com AMOR
Rute
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